A Prefeitura de Ribeira, no interior de São Paulo, enfrenta uma série de denúncias por improbidade administrativa, que envolvem diretamente o prefeito Ari do Carmo Santos (DEM) e sua vice, Juliana Maria Teixeira da Costa. Entre as acusações estão o pagamento com dinheiro público por um ritual de “amarração amorosa”, a contratação de uma funcionária fantasma e a transformação do governo municipal em um “cabide de empregos”, segundo aponta o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP).
Adolescente contratada como funcionária fantasma
Uma das denúncias mais graves envolve a contratação de Maria Selma Figueiredo de Oliveira, filha de Jorge de Oliveira — servidor efetivo da Secretaria Municipal de Saúde e então secretário interino da pasta. Em maio de 2024, quando ainda tinha 17 anos, Maria Selma foi nomeada para atuar como técnica de informática na Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade, mesmo sem formação na área.
O MPSP apurou que a jovem recebeu salário mensal de R$ 2.500 durante um ano, sem nunca ter exercido de fato a função. Em depoimentos colhidos pela Promotoria, servidores da UBS afirmaram jamais ter visto Maria Selma no local de trabalho. Uma funcionária chegou a contradizer-se, admitindo depois que a adolescente apenas ajudava ocasionalmente com digitação e digitalização de documentos. Já a diretora da unidade revelou que, sempre que havia necessidade técnica, outro profissional — do sexo masculino — era enviado para o atendimento, nunca Maria Selma.
Durante diligência do MPSP, a jovem não foi encontrada na UBS, e seu pai alegou que ela estava “na casa de uma amiga”, mesmo em horário de expediente. Em depoimento, pai e filha confirmaram as irregularidades e envolveram o prefeito e a vice-prefeita no caso.
Ministério Público denuncia “cabide de empregos”
De acordo com o MPSP, a gestão de Ari do Carmo Santos adotou como prática recorrente a contratação de servidores sem concurso público nem processo seletivo, em clara violação à legislação. O órgão afirma que o prefeito utilizou a máquina pública para favorecer aliados e fortalecer seu grupo político.
Em apenas sete meses de 2025, a Prefeitura realizou 2.970 pagamentos que totalizam R$ 7,5 milhões — o equivalente a 47,45% do orçamento anual da cidade, que possui cerca de 3 mil habitantes. Desde 2021, essas contratações irregulares teriam consumido mais de 80% do orçamento anual.
As funções atribuídas aos contratados variam, chegando a casos como o de um homem contratado por R$ 1.360 para confeccionar cinco capas de colchões, quatro travesseiros e dois apoios de cadeira.
Prefeito ignorou concurso para beneficiar aliado
Outra irregularidade envolve a nomeação de Alan Fogaça da Costa, secretário municipal de Obras e aliado político do prefeito. Ari anulou o resultado de um concurso público para o cargo de engenheiro civil e nomeou Alan, mesmo ele não tendo atingido a nota mínima no processo seletivo.
O candidato aprovado em primeiro lugar recorreu à Justiça e obteve decisão favorável. Em 30 de julho, o Judiciário determinou que o prefeito nomeasse imediatamente o primeiro colocado, anulando a nomeação irregular.
Justiça afasta vice-prefeita e servidor envolvido em escândalo da “amarração”
Na segunda-feira (4/8), a Justiça afastou Juliana Teixeira dos cargos de vice-prefeita e secretária municipal, em decorrência do caso da “amarração amorosa”, em que recursos públicos foram utilizados para contratar um suposto ritual com fins pessoais. Lauro Olegário da Silva Filho, coordenador da Saúde e alvo do ritual, também foi afastado.
A decisão foi assinada pelo juiz Yuri Rodrigues Santos Santana Barberino, do Foro de Apiaí, que suspendeu o exercício da função pública dos envolvidos e determinou a suspensão dos salários. Juliana e Lauro também estão proibidos de frequentar repartições públicas do município e de manter contato com testemunhas e servidores de setores estratégicos da administração.
A medida judicial inclui ainda William Felipe da Silva, empresário responsável pela empresa W. F. Da Silva Treinamentos Ltda., que teria sido usada para desviar recursos e viabilizar o pagamento do ritual.
Promotoria pede cassação dos mandatos e devolução de valores
Diante do conjunto das irregularidades, o Ministério Público solicitou à Justiça, na última sexta-feira (1/8), a perda das funções públicas do prefeito e da vice-prefeita, além da devolução dos valores desviados e aplicação de multas.
“O contexto apurado nos autos revela, de maneira clara e contundente, que o prefeito Ari do Carmo Santos transformou o Poder Executivo municipal em um grande cabide de empregos, com o objetivo de acomodar aliados, angariar simpatizantes, auferir dividendos políticos e eleitorais, e manter seu grupo político no poder”, afirmou o MPSP na denúncia.
A Justiça ainda deve decidir sobre os pedidos de perda de mandato e outras sanções solicitadas pelo Ministério Público. Enquanto isso, a Prefeitura de Ribeira segue no centro de um dos maiores escândalos políticos de sua história.





