A gestão Tarcísio de Freitas, do partido Republicanos, lançou uma polêmica medida que exige que diretores de escolas estaduais em São Paulo participem ativamente do ambiente de ensino, assistindo a pelo menos duas aulas semanais ministradas por professores. A determinação visa reforçar a qualidade educacional e fornecer maior apoio aos educadores, mas tem causado controvérsias.
Através de uma portaria publicada no Diário Oficial na última sexta-feira (28), a nova regra estabelece que os diretores registrem observações detalhadas das aulas que assistirem e enviem relatórios à Diretoria de Ensino responsável pela região da escola. A implementação prática e a análise desses relatórios ainda não foram completamente esclarecidas, levantando dúvidas sobre eventuais consequências para os docentes.
A Secretaria da Educação, sob a liderança de Renato Feder, defendeu a medida como uma maneira de fortalecer o suporte aos professores e promover uma interação mais profunda entre a equipe pedagógica e os diretores das escolas. No entanto, a iniciativa foi recebida com críticas por parte do sindicato dos professores estaduais, representado pela Apeoesp. Em um comunicado, o sindicato afirmou que a medida é “inaceitável” e infringe princípios fundamentais da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Márcia Jacomini, professora do Departamento de Educação da Unifesp, observou que a prática de acompanhamento de aulas por diretores e outros educadores já existe, embora não haja consenso sobre sua frequência. Ela questionou a necessidade de que diretores assistam regularmente às aulas para exercerem sua liderança e integração na escola, sugerindo que a portaria não deixa explícitos todos os seus objetivos. Jacomini também associou essa medida à recente decisão do governo de não receber livros didáticos do programa nacional gerido pelo MEC (Ministério da Educação).
A professora especialista apontou que a presença dos diretores em sala de aula parece visar um maior controle sobre o trabalho dos professores, especialmente no que diz respeito ao conteúdo estipulado em plataformas digitais e à preparação para avaliações como a Prova Paulista. Segundo ela, as aulas passarão a focar em questões específicas que são frequentemente abordadas em avaliações padronizadas. Jacomini concluiu enfatizando que essa abordagem é insuficiente em termos de formação pedagógica.
A Secretaria Estadual da Educação esclareceu que a medida proporcionará uma orientação mais precisa para os gestores pedagógicos, permitindo-lhes acompanhar e apoiar os professores de forma mais eficaz, abordando as necessidades cotidianas das atividades escolares. A aplicação prática da portaria será adaptada às características de cada unidade escolar, garantindo flexibilidade na implementação.
A nova medida tem gerado debates intensos sobre o papel dos diretores na sala de aula e os impactos potenciais na dinâmica educacional das escolas estaduais de São Paulo.